28/07/07

Nocturna

Não sei se espere o novo dia para partir,
Ou se sucumba já às dores do primeiro passo.
É que às vezes as calçadas são tão duras,
E as fraquezas sempre puras de silêncio,
Num chão-ladrilho denso de pedras despegadas.

Talvez aproveite o esvair da aurora,
A bórea real insensível ou as brumas,
Despontadas, imensas, e atire o calcanhar
Deserto de receios ao embate cru da lage lisa,
Fria.

Ou talvez fique, apegado à eternidade do momento,
Apenas dado, apenas lento.
Se calhar, cada dia que passa fica sempre um pouco mais,
E talvez consigamos, parados, ver passar tudo o que interessa.

Não sei se espere, ou fique mesmo, ou parta,
Se chame ou me faça à estrada invisível.
Talvez me deite, atento à hora tardia,
Para que, fechando os olhos às cruéis luzes soturnas,
Consiga chegar cedo, madrugando destemido
Ao nascer do novo dia.

1 comentário:

Anónimo disse...

Um abraço, Rafael.