14/09/09

Três dias verdes-oliva

Três dias verdes-oliva
rolaram do seio
ao entre-meio feito lago
de suor ou não,
tépido suco divinal de coração
regado na manhã esperta
o canal nutritivo
de infância cerrado.
Lá, banhando-se,
afogaram o passado.

Os soçobrantes seguiram caminho
saltando as impúberes negras
delícias simiescas
até perder-se da trupe a metade
ao cair da curta tarde:
aproximou-se largo passo
da mais recôndita zona
das noites principescas
femininas do destino.

Então, parando,
que, afinal,
tudo aquilo era saliva,
o amanhã seguiu sozinho.

10/09/09

Porquê?

Porque contigo
as noites não terminam
e os dias são pequenos.
E a idade passa tão depressa
que sou novamente criança
nos teus braços.

Porque a minha razão
não encontra as razões
no meu coração, de tão cheio,
impenetrável.

Porque quando entro em ti
saio de mim,
viajo sobre o teu corpo
e adormeço recostado na tua palavra.

Porque contigo
as madrugadas são de luz
e há sempre uma vela tímida
lutando perante os nossos olhos.

Porque a tua alma é pura
e dá esperança à minha,
corrompida.
E és a estrada
e destino dos meus passos.

Porque és, afinal, a vida
do meu amor.

07/09/09

O aniversário

O Outono já passa por aqui, e bem me custa saber que se findam os dias quentes. Aqueço as mãos nos bolsos, prolongo o uso dos casacos leves do estio, mas o corpo sucumbe na adversidade dos prenúncios gelados. As tardes emagrecem, bem mais que o corpo, e o Sol, quando bate, é carícia.

Passa assim um ano de ausência de Lisboa, dos cheiros, da luz - não me despedi para antecipar o regresso, ou apenas para prolongar a memória. Mas despedi-me de pessoas - algumas, sempre memória. E dói, encarar as presenças fugazes da vida...