05/06/09

A última - primeira

Vinte, as rosas sobre a cama
- teu leito.
Nelas nos deito,
nessa noite derradeira já esquecida.

Das vinte, a que me deste sobrou,
vermelha e bela,
enfeitada à lapela.

Muito tempo passou que a guardei
rubra e terna,
perfumada ainda
da nossa manhã clara conjunta,
perdendo-se que ia
a sua estrutura de flor.

Ficaram as espinhadas
pétalas secas de amor
em que tropeçava
nas saídas atrasadas
de todos os dias,
despedidas tristes, murmuradas.

Importa sair da beleza derradeira
sem hesitação nem demora:
e atirei cruel a última - primeira
das vinte rosas pelo peito fora.

01/06/09

Os dele, os dela

Era um enleio de presságios,
os dele, os dela,
amor e meio dado
um fio de luz cinza
desprendendo-se da janela.

Era um navio,
abandeirado de cruz rubra,
e, enfunando, a branca vela
gemidos assoprados de língua turva:
- os dele, os dela.

Era uma confusão, aquilo:
mastro, escotilha, cordame
e escuro porão resguardado
rum-ando ao travo odoroso do paraíso,
infame e tranquilo alvo
de raso-soldado indeciso.

Eram uma ilha,
distante e bela,
enclavados da oceânica solidão,
receio de naufrágios:
os dele, os dela.