14/07/06

Conclusão

Ela: nao tens mais nada pra fazer é?
Ele: .....
Ela: estou a brincar, não te chateies.
Ele: ....
Ela: nao te "abespinhes" (ves? ves? palavra dificil....)
Ele: ....

Incredulidade

Ela ficou com dúvidas se o texto que nasceu era sobre si, e sobre aquele momento. Ele achou por bem, embora um pouco a contragosto, dissipar as dúvidas.

Afinal, sobre a mesinha de cabeceira, não existem candeeiros. Mas a ventoínha está lá.

Quanto ao fim de tarde optimista de Outono, talvez fosse uma noite de Verão, lenta e quente.

Noite de Verão

Tinham conversas infinitas, defronte dos ecrãs suspensos que lhes amparavam as noites. Começaram a trocar momentos, e partilhar um pouco do que de único fazia parte das suas vidas.

Ela, sentada numa cadeira tosca, persiana entreaberta, aguardando a lufada de ar fresco que a ventoínha fazia correr serena, ia carregando nas teclas e no rato, dispondo notas soltas pela noite de Verão. Em cima da mesinha de cabeceira, um candeeiro brilhante alegrava o quarto.
Decidiu enviar-lhe uma gravação sua, a tocar e a cantar.

A noite dele tinha passado demasiado quente. Pela janela do quarto, totalmente escuro, entrava uma réstia da luz do candeeiro da via pública, uma luz amarelecida e triste, que iluminava a noite, sempre deserta.

O rectângulo - ecrã brilhava, solitário, e a noite ia correndo lenta. Só se ouvia um piano, velho e desafinado, e a voz dela, inocente e segura, a resistir heroicamente ao Mi bemol por vezes difícil de discernir, gravada num fim de tarde optimista de Outono.

Nesse momento, a canção ia correndo, e o tempo definitivamente parado. Defronte do ecrã, a luz amarelecida vacilou, a conversa fazia-se sem palavras.

E o quarto escuro tornou-se uma imensa caixa de música.

03/07/06

Dormíamos nuas

Dormíamos nuas,
De pernas enlaçadas e peles sentidas,
Arrepiadas pela aragem suave de Junho,
Que chegava numa golfada de cortina macia.

Dormíamos nuas,
Na paz tranquila do desejo,
Agarradas à paixão satisfeita de ser
Apenas corpos despidos que se tocam.

Dormíamos nuas,
Trocávamos dedos e mãos,
Abraçadas no aconchego vazio
Da cama quente que gemia, silenciada.

Dormíamos nuas,
E os nossos medos eram fingidos,
Viagens amadas de corpos cruzados,
Cansados de esperar à noite a madrugada.

Dormíamos nuas,
Nessa manhã de Junho que tardava,
Em que os nossos toques se nunca tocaram,
E os nossos amores nunca se acordaram.

Dormíamos nuas,
Numa manhã abraçada de Verão,
Almas tranquilas deitadas,
Num lençol quente de memórias boas.

Dormíamos nuas,
Porque vivemos muito.
E porque éramos tanto as duas,
Adormecíamos, e éramos apenas pessoas.