05/10/06

Desejo capital

Gostava de ter um prostíbulo, ser patrão, dono e senhor das carnes, actrizes meigas do pecado.
Do chão nasceriam rosas, de cujas pétalas as minhas meretrizes fariam os mais doces perfumes, néctares divinos, banhando as suas formas dolicocéfalas.
Comerciante, banqueiro, produto final e gestor, gostava de ter, inteiro, um prostíbulo rentável, legal, onde as prosas, maleitas, queixumes, seriam rendas mimosas e camas desfeitas, almofadas, penas mergulhadas, lençol ou cobertor.
No meu prostíbulo, o prazer seria capital.

Mas só se venderia o amor.

6 comentários:

Anónimo disse...

Parece lindo o teu prostíbulo. Mas se o produto do teu prostíbulo imaginário é o amor, qual é a moeda de troca? A liberdade?

Um beijo

Rafael Fraga disse...

Cara "Eu" ( o género é deduzido pelo cumprimento final em forma de beijo :),

Creio que respondo a essa questão na última linha do texto, disfarçada pela ambiguidade resultante dos múltiplos significados da palavra "capital": numerário, essencial, povoação principal de um país, etc.

Que poderá ser o amor, senão o maior dos prazeres?
Creio ser essa a moeda de troca...

Um beijo para si também,
R.

Anónimo disse...

Espero que aceites o meu comentário sem o considerares uma crítica à tua forma de escrita:
"formas dolicocéfalas"... não faz sentido, 1º porque a própria origem da palavra produz redundância e 2º os braquicéfalos têm uma melhor estetica, provocando consequentemente uma maior atracção; por isso deixo aqui uma pergunta: se falas de desejo capital / luxuria não seria mais indicado o uso da forma "Braqui"?

Rafael Fraga disse...

Caro(a) anónimo (a),

Agradeço a questão, tentarei responder.
O sufixo "céfalas" remete-nos para a cabeça dos vertebrados, ou, mais concretamente, para a parte neuronal protegida pelo crânio; quando uso o adjectivo "dolicocéfalas" para classificar as "formas", não creio que se gere redundância (isso seria se em vez de "formas" o que estivessem a ser classificadas fossem "cabeças"); estabeleço apenas uma analogia entre a forma geral do corpo e um tipo específico de forma cefálica.

Assim, uso "dolicocéfalas" num sentido lato, querendo dizer comprido,oval, ou seja, com o diâmetro transversal mais pequeno que o longitudonal - corpos (formas) compridos, esguios.

Se é verdade que os braquicéfalos são esteticamente mais "apelativos", para um padrão de beleza actual e genérico, a forma corporal "braquicéfala" não o será, porque será mais aproximada da esférica.

De qualquer forma, a inclusão do termo "dolicocéfalas" tem sobretudo duas funções suplmentares: primeira, a de estabelecer uma relação fonética entre "dolico" e "glico", complementando as orações anteriores, que falavam de néctares divinos, etc.; segunda, a de criar um momento de certa forma "abrasivo", pelo carácter da palavra, em detrimento de outras opções bem mais escorreitas("formas esguias", etc.) . Com "dolicocéfalas" o discurso, até então mais fluído, encontra um obstáculo, uma palavra menos comum, e a "narrativa" tem uma pausa.

Para terminar, e sobre a sua sugestão final, penso que que já respondi: as "formas dolicocéfalas" pretendem ser esguias, compridas, perfeitas, instrumento ideal de prazer. Não sei se concordo com a sua interpretação de "desejo capital/luxúria", pelo significado pejorativo geralmente atribuído a "luxúria" - estas meretrizes vendem algo puro...

Bem, e creio que bati o recorde de utilização de palavras para falar sobre apenas uma palavra... peço desculpa pela explicação morosa, e agradeço o comentário/ crítica.

R.

Anónimo disse...
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Anónimo disse...

o prostíbulo, dar-nos ia, algo que acho que esta em extinção, ou talvez,"corrunpido" com coisas insignificantes, na minha opinião...
Sem dúvida que é preciso, muito amor puro...
beijo grande....
Lúcia Fisteus