28/11/05

Sete horas em Lisboa

Passa o primeiro comboio e a cidade acorda. Cães longínquos vão latindo, distantes, e os grilos, já escassos, recolhem-se, solidários.
Ao longe, o silvar da mecânica urbana vai nascendo; na rua do lado, que espreito sob a janela, passam carros discretos, ainda lentos. A pouco e pouco os prédios vão-se despindo por dentro, as suas fileiras de gentes laborais semi-dormidas iniciam a mesma alvorada de todos os dias.
Já há luz, o ruído da engrenagem urbana, ainda que distante, torna-se invasivo, e fecho a janela por onde a aragem extinta da noite passava, entreaberta.
Os carros passam seguidos, cruzando as ruas enfileiradas de prédios abandonados.
O vizinho de cima levanta-se num salto, e inicia a sua oração cambaleante de resmungos entre alívios.
Já nem os cães se ouvem, quando deixo a cidade acordar em paz, e adormeço.
Partindo, levo Lisboa comigo, deixando a cidade atrás.


Mas nunca a esqueço.

1 comentário:

Anónimo disse...

:-)
Todas as cidades são bonitas...quando vistas de longe...