10/11/05

Clara

Clara não é bela.
Ou é-o, à sua maneira, dela,
muito bela de ser.

O seu jeito é tímido, reservado;
o sorriso, ousado, perfeito em não se conter.
Clara desliza, flutua.
Os seus olhos são belos pelo olhar;
a sua boca pelas palavras.
As suas unhas, roídas, inquietas,
ficam, em Clara, escondidas,
nas mãos cerradas, quase nunca abertas.
O cabelo, castanho desalinhado,
é belo porque existe,
encimado no seu corpo estreito.

Quando Clara quer, Clara cumpre.
Clara sonha, Clara faz.


Amar Clara deve doer, a não ser o amor sem jeito que Clara já traz.
Eu não a amo, mas amo Clara – se é que me faço entender:

É que, sem ser bela, Clara tem, pura,
toda a beleza do mundo,
à sua maneira bela,
muito dela,
de ser.

Lisboa, 2 de Novembro de 2004


(Há cerca de um ano, era assim. E ainda ontem a vi...)

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