11/06/06

Madrigal

Fui ouvir Eugénio porque era tarde, uma tarde cinzenta e bela, mergulhada em pingos de uma calma que chovia, e que falavam, caindo sem colo, perdidos na imensidão do dia.

Fui ouvir Eugénio, numa sala de pedra fria, com o chão coberto de árvores rasas, desfeitas em tábuas sem nome, e que, rangendo, sem copa morriam.

Fui ouvir Eugénio, e fui só, porque lá encontrei o mundo inteiro, nas palavras-poemas do velho mestre, morto de poesia.

Fui só, mas voltei cheio, alegre de ter sido, voltei cheio da tarde cinzenta e fugidia, e ainda creio que deixei uma chuva inteira de mim, escorrendo para sempre nas folhagens das palavras cortadas da escuridão, como ramos que tombam pregados ao chão.

Fui só, fui ouvir Eugénio, numa tarde cinzenta e fria, esperando que todas as tardes aguardem o seu renascer num novo dia.

Lisboa, 4 de Março de 2006

1 comentário:

cvarao disse...

mostra o que ouviste... ou leste