18/03/13

Há afinal caminho

Desespero da fome
crise vendida
fantasma da miséria
pulsar imaginado
de horizonte sombrio.

Mas
um trompete suave,
um traço de Monet
e distante, a ânsia
feita lema
das palavras de Eugénio
ferindo como beijo

"é na alma que a morte faz a casa"

porquê?

Sem corpo,
seio esmaltado
musa que sorri
não passa
de mal que nos consome,
tremida, etérea
- a rima avança.



Da aragem difusa
cena-en-mise fendida
veio recortado
e féria em que se lê:
há afinal caminho.
Poema, desejo.
Esperança.



13/03/13

Quem

Ali jazem
em assomo
os filhos de nossas mães.


Aqui jazem
revéis
as mães de nossos filhos.

Quem nos chorará um dia,
quem?

Rima

Mágoa.
E mesmo já tantas vezes feita
não há rima que supere
o rente crepitar da água.

11/03/13

Matinal

Aqui nascem
em espera
mãos de véspera.

Vespertino

Aqui jazem
em véspera
as mãos que esperam.


10/03/13

No meio-fio do mundo

Dias e dias
de olhos mortos, a cair
no meio-fio do mundo
tão distante
sem milagre
salvação
luz redentora
ou sinal.
No semblante
de postos, uno
a fingir
nem oração
mezinha
mão benzedoura
ou ritual.
Só a espera,
estio
prumo.
E um céu
pejado de estrelas
ardente
nocturno
de cristal.