25/10/12

Oxímoro

Quando a um canto da sala
estiverem tuas mãos, perdidas
e pedaços de outros
também lá esquecidos,
e os tapetes forem cerdas
de cabelos, de unhas sangradas
e em nada mais
nos cheguem os muros,
as janelas, as folhas,
das árvores caídas,
e a luz de tecto pendente
uma vela que pinga
sangue, lágrimas e vinho
escorrendo pela pernas,
como a rosa ocre
cortada
à força de espinhos,
a fechadura exígua
sem chave trancada
canal único
por se onde possa respirar,
que impede as bocas
as línguas e o marfim
que dilacera e tritura,
e solta esse abismo
medonho
de penúria,
ossos cruzados.
E silêncio.