22/10/08

A tarde

Desce esta tarde tão triste
Luz difusa
o silêncio do vento
enconbrindo a cidade.

Finda, e para sempre se extingue.

Sem risos nem lágrimas,
Apenas a dor que reveste cada folha outonal.

É apenas a tarde, tão triste,
que desce, ou eu,
mais triste,
descendo sobre ela.

06/10/08

É a festa!

(Fotografia de João Leite Gomes - detalhe)

Que haja luz e cor,
Procissão feita de espanto
Romaria de louvor,
Padre-nosso,sesmaria,
Que se grite e cante,
Desrezando o breve terço,
De quinhão guardado!

Que se façam fogos-presos,
Comédia farta,
Banda tocando bem alto,
Tara-ta-tchim, Tum-Tum
Tara-ta-tchim-tchim-tchim
E as musas do petisco,
Atacando de atacado,
O mojo do fervor...

Luz, cor, velas sombrias,
Adoração, venha a alegria!

É a festa, confrades,
É a festa, reprimido!
(Pobreza...)
É a festa das comadres!

É a festa,
Da Senhora da Tristeza,
Pão-vosso arrematado,
Repartido cada dia.


05/10/08

Lentamente

(Fotografia de João Leite Gomes)

Vejo-as partir e chegar
não são marés, nem rios,
nem mágoas.

Menos terra, menos tudo,
a cada dia me despego
a cada noite me desfaço,
apodreço e me despeço.

Vejo-as morrer,
porque nascidas,
serão eternas
jamais.


Todas Outonais,
as folhas afundam-se
sem dias nem tempo
de esperas.

E depois,
secam lentamente
minhas águas...