29/08/05

Volley na Beach

Dois gravetos em jeito de poste, duas cordas velhas e remendadas.
A função é clara, delimitar e obrigar à transposição por um objecto, geralmente esférico, intento desafiador.
Que diriam as esculturas humanas da Califórni
a, ou de outras Califórnias, bronzeadas sob o Sol escaldante da Bay, com a tez moldada ao sal das ondas surfadas com esmero, a combinação métrica e torneada do músculo e do encanto?
Dos seus olhares de acrílico, desdenhariam destas cordas, imersas no galanteio de redes esticadas, das malhas importadas do Oriente, Made in Taiwan.

Crucificadas em postes luzidios brancos, a sua delimitação é, de facto, cruel, inquestionável.
Nessas redes perfeitas, as estátuas muito tanned degladiam-se na conquista da efémera ascensão humana, em escadarias sociais de seduções garbosas.

Mas terão elas, porventura, alguma vez possuído uma praia inteira de areia negra, deserta dos desígnios maliciosos da indústria dos corpos? E só para si,um par de postes, recolhidos nas entranhas da Fajã, moldados pelas chuvas quentes de Verão e pelo mordiscar das pedras sob as ondas, unidos pelas cordas soçobrantes de uma velha rede de pesca, que defrontou nas imensas profundezas atlânticas os mais imponentes sword-fishes e blue marlins?
Não, creio que que não.
A frieza do aço inoxidável, eternamente brilhante, entr
anha-se pelos poros camuflados sob a areia colada e afogada em sun laits.

Nas magníficas Califórnias, não se pode ser criança nem correr num pedaço de praia. Por cá, sempre se pode ter, mesmo criança, uma praia inteira.
À distância, tudo faz sentido.

Afinal, Nova Iorque é já aqui ao lado...

À luz de uma nova madrugada...

Feteira, Ilha do Faial. 06:40h da manhã de 26 de Agosto. Sob o olhar atento da montanha, as lapas grelhadas estalavam no tabuleiro.
O pequeno -almoço estava servido!

Dia e noite têm andado misturados, confundindo-se as funções convencionadas de cada período. As predilecções claramente noctívagas que alimento, dão azo a estranhas combinações circunstanciais.

É um fim de mais um pequeno ciclo, que se encerra quase cruel com a necessidade de um regresso ao marasmo da vida urbana e urbanizante. No meio de tantas paredes, tantas gentes, ninguém tem coragem de ser nem de se dar, pois já ninguém sabe o que é receber. O temor impera, os olhares invadem, um toque ligeiro é uma imperdoável agressão. No fundo, tudo se resume à ausência prolongada de exposição a um beijo amigo e sincero, um abraço forte que conforte.

Por cá, temos conseguido recuperar alguns dos beijos e abraços quentes que só a amizade e a partilha sabem temperar. As paredes parecem-nos diferentes, os olhares bem-vindos.

Em jeito de despedida, encetámos uma mariscada madrugadora, à luz dos primeiros raios da manhã. A Ilha do Pico fez o resto, transportando-nos com a magia da sua imponência para uma realidade inesquecível.

Bom apetite!